segunda-feira, 14 de abril de 2008

Histórias Clínicas

Todos os estudantes de Medicina anseiam por chegar aos anos clínicos. Mal sabem é que há outro desafio a enfrentar quando esta meta é finalmente alcançada: as histórias clínicas. São, sem dúvida, um dos principais métodos de aprendizagem clínica, mas por vezes colhê-las e escrevê-las consegue ser bastante frustante.

Hoje aconteceu-me uma situação destas, mais uma vez. Chegámos ao pé do doente, muito simpático e conversámos com ele, fazendo todas aquelas perguntas que é suposto, o que se passou agora, os antecedentes pessoais e familiares e até a exaustiva história clínica. Depois seguiu-se o exame objectivo, sempre com o doente muito colaborante, mesmo quando nós quase o virávamos do avesso.

Depois da história colhida fomos até à sala dos médicos. O nosso assistente estava com os alunos do 6º ano e os internos a discutir os vários doentes. O pior foi quando chegou a vez de discutirem o "nosso" doente: parecia que estavam a falar de um doente complentamente diferente, tal era a diferença das queixas que teriam causado o internamento do doente!! O pior é que nós tinhamos perguntado aqueles sintomas e o doente os tinha negado! Estou no 5º ano e assusta-me imenso que este tipo de coisas aconteçam. Afinal o que estava diferente era a parte mais importante da história clínica, a história da doença actual, que consiste naquilo que trouxe o doente ao hospital e que serve de base principal para fazer as hipóteses de diagnóstico. E se nesta altura o mais importante para a nossa aprendizagem é mesmo o colocar e discutir as hipotéses diagnósticas, como o poderemos fazer com histórias diferentes da real?

Acredito que não foi erro da colheita da história, afinal já temos bastante prática neste campo, já conseguimos caracterizar bem os sintomas e às vezes até pecamos por excesso de pormenores! A principal razão é provavelmente que os doentes valorizam queixas que não são afinal os principais sintomas e desvalorizam os mais importantes. Não quero com isto que todos os doentes estudem Medicina e tenham quadros clínicos "de livro", nem que venham com self-diagnosis, feitos na internet. Por outro lado, também não quero que os doentes sejam hipocondríacos e super-valorizem todas as suas queixas - nessa situação nenhum médico ou estudante se consegue orientar. O que eu queria mesmo era um meio-termo - porque é que é sempre tão difícil atingi-lo?

3 comentários:

Ska disse...

pois, mas ao menos não tens de colher as histórias em francês. Isso sim, seria difícil!

Marta disse...

ahahah, foi tão engraçado, fiquei de queixo caído quando percebi que estavam a falar do vosso doente

J.MARTINS disse...

Dica da semana: "Quando ja tiveres a resposta a uma pergunta, pergunta-a outra vez..." K.I.S.S. (Keep It So Simple)