Todos os estudantes de Medicina anseiam por chegar aos anos clínicos. Mal sabem é que há outro desafio a enfrentar quando esta meta é finalmente alcançada: as histórias clínicas. São, sem dúvida, um dos principais métodos de aprendizagem clínica, mas por vezes colhê-las e escrevê-las consegue ser bastante frustante.
Hoje aconteceu-me uma situação destas, mais uma vez. Chegámos ao pé do doente, muito simpático e conversámos com ele, fazendo todas aquelas perguntas que é suposto, o que se passou agora, os antecedentes pessoais e familiares e até a exaustiva história clínica. Depois seguiu-se o exame objectivo, sempre com o doente muito colaborante, mesmo quando nós quase o virávamos do avesso.
Depois da história colhida fomos até à sala dos médicos. O nosso assistente estava com os alunos do 6º ano e os internos a discutir os vários doentes. O pior foi quando chegou a vez de discutirem o "nosso" doente: parecia que estavam a falar de um doente complentamente diferente, tal era a diferença das queixas que teriam causado o internamento do doente!! O pior é que nós tinhamos perguntado aqueles sintomas e o doente os tinha negado! Estou no 5º ano e assusta-me imenso que este tipo de coisas aconteçam. Afinal o que estava diferente era a parte mais importante da história clínica, a história da doença actual, que consiste naquilo que trouxe o doente ao hospital e que serve de base principal para fazer as hipóteses de diagnóstico. E se nesta altura o mais importante para a nossa aprendizagem é mesmo o colocar e discutir as hipotéses diagnósticas, como o poderemos fazer com histórias diferentes da real?
Acredito que não foi erro da colheita da história, afinal já temos bastante prática neste campo, já conseguimos caracterizar bem os sintomas e às vezes até pecamos por excesso de pormenores! A principal razão é provavelmente que os doentes valorizam queixas que não são afinal os principais sintomas e desvalorizam os mais importantes. Não quero com isto que todos os doentes estudem Medicina e tenham quadros clínicos "de livro", nem que venham com self-diagnosis, feitos na internet. Por outro lado, também não quero que os doentes sejam hipocondríacos e super-valorizem todas as suas queixas - nessa situação nenhum médico ou estudante se consegue orientar. O que eu queria mesmo era um meio-termo - porque é que é sempre tão difícil atingi-lo?
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3 comentários:
pois, mas ao menos não tens de colher as histórias em francês. Isso sim, seria difícil!
ahahah, foi tão engraçado, fiquei de queixo caído quando percebi que estavam a falar do vosso doente
Dica da semana: "Quando ja tiveres a resposta a uma pergunta, pergunta-a outra vez..." K.I.S.S. (Keep It So Simple)
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